DESAFIO AO JORNAL -"SOL"

Exma. Sra. Jornalista Graça Rosendo Envio este singelo texto em forma de correio de leitor, assim o permitam em termos redactoriais, mas gostaria de partilhar algumas preocupações transversais a todos os trabalhadores. Efectivamente quem trama os enfermeiros é o Governo e não fruto do acordo e bem com os Professores. A luta de classes não se trava entre trabalhadores. Trava-se entre quem detém o poder económico e os trabalhadores, onde se inclui naturalmente a Sra. Jornalista, como trabalhadora. Ambos temos um código deontológico, refiro-me naturalmente ao enfermeiro e ao jornalista. Fruto das alterações profundas e da concentração do poder económico na área da comunicação social houve a retirada de direitos e sobretudo a fragilização do exercício profissional do jornalista, esta é a minha opinião. Poderá ou não concordar com ela. A nossa situação tem uma similitude no exercício face à proliferação da precariedade, da exploração, da usurpação de condições de trabalho decorrente da privatização de áreas de intervenção, as famosas parcerias com os privados, onde emergem grandes grupos económicos, alguns cimentados no sector financeiro e especulativo. Mais grave, as opções políticas de fundo deste e dos anteriores governos foram no sentido objectivo de destruição do sector público da saúde, vejam os encerramentos de maternidades, internamentos e um inúmero conjunto de situações que colidem com o interesse colectivo da população – a melhoria dos cuidados públicos de saúde, onde se consubstancia o nosso trabalho. Seria importante fazerem um trabalho de investigação jornalística sobre as inúmeras áreas de intervenção dos enfermeiros. Sou do distrito da Guarda, há imensos exemplos de tenacidade de colegas para darem o seu melhor em prol das populações. A cobertura de vacinação, as intervenções no contexto da comunidade escolar, quando se discute tanto a sexualidade, mas não pensam num projecto efectivo em articulação MS e ME para a implementação da educação sexual nas escolas com cabeça, tronco e membros. A implementação do Plano Nacional de Saúde e o cumprimento de um conjunto de indicadores de promoção efectiva em ganhos em saúde fruto do trabalho dos enfermeiros. A intervenção dos enfermeiros na área da emergência pré-hospitalar, na saúde pública, nos cuidados altamente diferenciados, bem como, nos cuidados continuados e do idoso, nesta área fruto de parcerias com os privados a valorização económica da função social do enfermeiro é desprestigiante. A nossa luta não se reduz á componente económica, mas numa sociedade capitalista onde a valorização é traçada na valorização versus desvalorização económica, temos que lutar para melhorar a nossa condição económica. A valorização da nossa intervenção no contexto das organizações de saúde traria potenciais ganhos económicos a médio e longo prazo, além dos nucleares ganhos em saúde para a população. Haja espaço para um profunda revolução na Saúde, com responsabilização e co-responsabilização e dêem espaço às lideranças na saúde fora do paradigma caduco hospital cêntrico. Passemos a um modelo de investimento público de proximidade com todos os profissionais no terreno e não concentrados em “recantos de interacção” de interesses público-privados. Espero que criem um espaço de reflexão no vosso jornal sobre a profissão de enfermeiro numa visão holística tal como no nosso potencial de intervenção. Com os melhores cumprimentos. HONORATO ROBALO